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Porque SNVD

Ilustração: Caio Yuzo

Em algum momento de nossas vidas nos disseram que tínhamos a visão distorcida. Alguns chamam isso de “realidade prejudicada”.

Tivemos em comum um distúrbio mental cujas vítimas sofrem dos mais diversos preconceitos sociais e midiáticos. Enquanto que na visão de alguns ele é visto como coisa de gente louca, na visão de outros não passa de frescura de gente boba e fútil.

Essa doença se originou de, no passado, termos nos SENTIDO mais gordas do que éramos. SENTÍAMOS que éramos os seres mais feios, mais escrotos e mais porcos de toda a face da terra. Desmerecedoras de amor, afeto, reconhecimento.

Parece bobagem, né?

Mas a gente era muito boa em se sentir assim, e nos levávamos muito a sério. Tão a sério, que, por nos vermos como desmerecedoras, não revelávamos o que sentíamos para os outros. Não expressávamos a nossa dor pois nós mesmas nos julgávamos, mentalizando que a dor de se sentir um ser tão vil era uma frescura de nossos cérebros (nojentos e fúteis) que não deveria ser exposta para os outros. Pior: fingíamos estarmos bem, sorríamos, estudávamos, namorávamos, tínhamos amizades… É aquele velho karma. Quanto mais você reprime e esconde, o problema aumenta.

Então, quando ficávamos ansiosas ou nervosas com a vida, a gente se cortava, fazia jejum, vomitava, se autoflagelava… E escondia. Mas era só de vez em quando. Achávamos que pararíamos quando quiséssemos. Aí, com os anos e as decepções que a vida nos guarda, o que antes era um escape virou uma forma de sobrevivência, e amigos e familiares começaram a nos desmascarar.

Só que o que as pessoas que não são nós não conseguiam entender é que a gente não sabia porque fazia essas coisas.

Nessa época, tínhamos de 10 a 17 anos e nossas vidas não iam lá muito bem… Então a gente se contentava em forçar uma crença filosófica que se baseava na premissa de que se controlássemos nossos corpos, controlaríamos o mundo, os garotos que eram escrotos conosco, nossos pais que não conseguiam resolver seus problemas matrimoniais, a dor da perda de nossas mães e irmãos em acidentes trágicos, a dificuldade em fazer amizades em lugares que tínhamos que frequentar que não tinham muito a ver conosco…

Ilustração: Adriana Komura

Com ajuda de profissionais, familiares, amigos, do tempo, e depois de muitos questionamentos e batalhas internas, fomos nos reconectando à vida e buscando formas alternativas mais saudáveis de sobrevivência, porque percebemos que o nosso “esquema” era contraproducente.

Mas a verdade é que a gente de fato viveu infernos e situações horripilantes. Hoje, a simples ideia de que alguma garotinha (existem garotinhas de 10 e garotinhas de 40 anos. O que conta é o espírito) possa vir a sofrer um décimo da dor que sofremos por causa das mensagens inumanas que são passadas irresponsavelmente pela sociedade em que vivemos nos aflige e nos persegue. Em nossas vidas e em nossas profissões.

Meninas e meninos estão expostos da mesma forma à vulnerabilidade dos transtornos alimentares, mas meninas são mais suscetíveis a desenvolverem anorexia nervosa, bulimia e tane (transtorno alimentar não especificado).

Então, como acreditamos no poder da palavra, da conversa, da troca, resolvemos abrir nossas experiências para que as pessoas em situação de fragilidade possam combater os demônios que podem vir a traumatizar suas vidas e mudar o rumo de suas existências. Antes que fique difícil demais (para não dizer impossível) de lidar sozinho(a) com o distúrbio.

Acreditamos que uma pessoa com um transtorno alimentar (ou suscetível a desenvolver um) não precisa lidar sozinha com as questões que o transtorno envolve. Nós nunca estamos 100% sozinhos, e não há absolutamente NENHUM PROBLEMA EM BUSCAR AJUDA.

E para que o resto do mundo entenda melhor o que se passa no coração e na mente das pessoas que estão sofrendo de distúrbios alimentares, porque é assim, entendendo o outro, que a gente consegue se aproximar e ganhar a confiança alheia.

Para quem está realmente doente, gostaríamos de reforçar que um site não substitui de forma alguma ajuda profissional. É a sua vida em jogo.

Lute por ela.

Vídeo: Estudio MOL & Sam Ka Pur Filmes

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Sobre Nossa Visão Distorcida é um espaço aberto de desabafo e de reflexão criado por pessoas bem intencionadas e com experiência empírica. Visamos aproximar a sociedade de um distúrbio que nos últimos anos tem se tornado assunto de saúde pública: os transtornos alimentares.


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